terça-feira, 27 de julho de 2010

Jaime....




One upon a time...
Estava eu no Porto, cheguei ao hotel cansada de um longo dia de trabalho, atirei-me para cima da cama e adormeci de imediato, passado minutos senti-me a acordar, algo não estava bem, só conseguia estar consciente, não conseguia mover o corpo. Conseguia ver pelo canto do olho uma espécie de fumo denso negro a impor-se nu fundo da cama, não tive duvidas de que era uma má energia, tentei gritar e fugir mas não conseguia emitir nenhum som, no desespero tentei pedir ajuda a alguma entidade superior, após um longo periodo de agonia, acordei do pesadelo, tapei-me com um cobertor e fiquei ali, na cama, assustada, com medo de voltar a adormecer.
O medo tinha a sua razão de ser, sem sequer dar luta, sem sequer me aperceber, caí no sono novamente, caí no pesadelo novamente, mesmo onde tinhamos ficado, eu sem me mover, o fumo negro, cada vez maior junto á minha cama, o meu medo, depois a minha curiosidade a tentar enfrentar o medo, nunca tinha sentido tanta dificuldade em olhar algo tão escuro, não consegui ver para la da nuvem que crescia na minha frente.
Acho que a minha determinação foi sentida quando o olhei e o enfrentei, nao gostou de ser desafiado, e eu sabia que aquela força não me queria bem, tentei concentrar-me novamente e pedi aos seres de luz que me protejam e me ajudem a sair daqui, o fumo começa a avançar no meu sentido, fecho os olhos e sinto-me a sair da escuridão, sinto o meu corpo a querer mexer-se, consigo abrir os olhos e respirar, desta vez estou ainda mais assustada, estou a tremer, prometo a mim mesma que não volto a dormir esta noite, meto-me debaixo do chuveiro, depois faço uma chamada para a minha madrinha em quem confio, ela acalma-me, diz-me para não ter medo e acreditar na minha força interior.
Diz-me que não devo permitir ser ameaçada, tenho de demonstrar que tambem tenho energia, tenho muita luz!
Fiquei horas acordada, lutei contra o peso nos meus olhos, lutei até ao fim, mas sucumbi ao sono, não queria acreditar que estava pela 3 vez em contato com esta entidade que não para de me perseguir.
Após as palavras da minha madrinha sinto-me mais forte, agora mesmo dentro do pesadelo consigo mexer o meu corpo, saíu disparada da cama e caiu no chão, rastejo com os pés e com as mãos para longe dele, tenho receio das suas intenções.
Atrevo-me a subir o olhar, tento suportar o negro a bater-me na alma e embora no principio so veja fumo, começo a distinguir um manto na minha frente, uma especie de cobertor que tapa um corpo que sinto estar dilacerado, quase que afirmava que este corpo escondido esta rachado, esta perfurado, esta morto!
Continuo a olhar cada vez mais para cima, por fim vejo umas mãos a segurar no manto, umas mãos sujas, feitas de pele jovem e falecida, as unhas sujas, os nós dos dedos tao magros, pensei em não olhar mais, nao quero ver o seu rosto, não quero!
Mas os meus olhos ganham vontade propria e olham agora directamente o rosto dele, é um homem, um rapaz, a cor de pele não é branca, não é pálida, é uma cor que nao existe, é uma cor sem vida, tal como os olhos que são fundos e vazios, o cabelo é oleoso, sujo tambem, o rosto com olheiras negras e labios roxos, nao consigo falar, estou presa naquela morte, não tenho tempo, ele vai fazer-me mal, fecho os olhos e preparo-me para o pior, ele vai fazer-me mal!
O tempo não começa e ele desloca-se na força do espaço, quando o sinto prestes a embater no meu corpo e a levar-me a vida, ele muda de direcçao e passa entre os meus cabelos, passa junto ao meu ouvido e sussura com uma voz de desespero......Jaime...

Anos depois estava eu a trabalhar, estava a fazer entrevistas para novos candidatos, ja tinha falado com pessoas o dia inteiro e confesso que já não estava muito atenta.

O proximo interessado senta-se na minha frente, olho para a ficha de inscrição e nao vejo o nome dele, pergunto como se chama sem o olhar, e aí que ouvi aquela voz assustadora a dizer...Jaime...

Olhei rapidamente para a pessoa na minha frente e reconheci-o, era ele, mas estava vivo, pelo menos por agora...

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