segunda-feira, 19 de julho de 2010

Revolta




Pensa que sabe tudo quando nada sabe!
Não devia ser permitido que tomassem decisões por nós, muito menos sem nos consultarem, sejamos adolescentes ou adultos feitos.
Doente, sozinho, fraco, triste, abandonado pelas pessoas em que confiava, com medo de partilhar a verdade aos que mais amava...
No meio desse lodo fisico e mental virou-se para si, porque não falou comigo?
Porquê voçê?
Eu sei, porque sempre a amou!
Voçê diz que ele tinha vergonha, que lhe ligou e que disse que não queria prejudicar a nossa vida, e pediu-lhe ajuda, foi a si que ele perguntou: Conto aos nossos meninos? O que faço?
Foi a si e só a si que ele contou que estava doente, muito doente e que não sabia se iria sobreviver.
Não aceito nada do que voçês decidiram, não concordo com nada do que se passou a partir desse telefonema, não podiam ter decidido uma vida, uma morte ao esconderem a verdade de nós!
Onde é que vos pareceu que seria sensato e acertado fazerem o que fizeram?
Acham bem que eu tenha descoberto a verdade da forma que foi?
Acham bem ter de viver para o resto da minha vida sabendo que podia ter deixado tudo para tras para ficar com ele?
Eu podia ter tido a oportunidade de lhe dizer o quanto o amava até ao ultimo dia!
Mas, em vez disso, por vossa culpa eu falava com ele ao telefone e quando ele me dizia que estava bem, eu acreditei, eu acreditei, eu não sabia de nada porque voçês não me contaram, não tinham o direito de me fazer isto, não podiam ter-me magoado tanto!
Não era suposto eu descobrir a vossa mentira ao procurar pelo cheiro dele na pasta preta dos documentos, os meus olhos nunca vão esqueçer o que leram, o veredicto na minha frente, a sentença de morte dele nas minhas mãos, as minhas mãos manchadas com o sangue dele.
Olhe para as suas mãos, devem estar em carne viva e assim devem ficar eternamente, vermelhas de mentiras, vermelhas de crueldade e frieza, não, não, não, não aceito que foi uma decisão ponderada sobre o melhor para nós, nem que ele fosse o maior ladrão do mundo, eu jamais iria sentir-me envergonhada, jamais!
Sendo assim, não pude viver o que aconteceu de forma diferente!
Que desumano ter de saber a primeira mentira de uma história, ir a voar para Lisboa com o coração apertado sem saber bem o que se passava, muito menos preprarada para o que ia encontrar ao entrar naquela sala abafada e com pressagio de escuridão em todo o lado.
O teu corpo magro e para mim irreconhecivel deitado numa cama estreita, o teu rosto que era moreno estava agora pálido, os teus olhos negros quase brancos, a tua força inexistente, o teu corpo fraco e a separar-se da vida, o teu corpo amarrado e a tua boca a tentar falar comigo com tamanha dificuldade.
Eu parada no mundo a segurar-te a mão!
Tu não merecias ter passado por todo aquela dor e sofrimento, lutaste sozinho contra uma força maior que tu, se ao menos tivesse eu lutado ao teu lado, se eu soubesse que precisavas de mim, tu terias tido tanto amor, eu teria-te amado sem fim, lembras-te do teu postal que dizia: Mais um laço entre nós?
O teu laço continua vivo, o teu amor continua vivo, mas tambem admito que a raiva, a revolta, a desilusão, tudo isto tambem continua vivo dentro de mim, nunca vou compreender, perdoei-te porque acredito que no turbilhão de medo em que vivias e que te comia não conseguias distinguir o mais correcto a fazer.
Eu não tinha que andar enganada tanto tempo, eu não tinha que me sentir amargurada por saber que ninguem esteve contigo, eu não queria saber que sofreste no silencio, que te torturaste para me tentares poupar a mim e ao mano.
Não me pouparam de nada, sofri como não vos é possivel pesar quanto, porque eu tambem estava sozinha quando descobri o vosso segredo, eu tambem sei o que é estar sozinha e sentir-me a morrer...tal como aconteceu com ele...

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