quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Adamastor


Ele dizia-me:
Vez ali ao fundo, é o Cabo Espichel, já lá foste?
Eu disse que não e fiquei a ver os olhos dele debaixo do brilho do sol, como se fossem duas orbitras e o sol rodasse lá dentro a arder...
Pensava:
O que tera esse lugar de diferente que me faz ve-lo desta forma, com este fogo no olhar?
Uma toalha para dois, uma praia cheia de pessoas que se evaporam com um lançar de pestanas, a sensibilidade ao rubro!
As conversas com as portas escancaradas, as palavras a dançarem umas com as outras num átrium antigo, os ruidos da criação das frases, a explosão dos sons após serem proferidas sentenças do passado, a certeza de nunca nos puderem enjaular, o desejo de mais...
Os pecados confessados com gosto, os ultimos riscos de uma espécie de medo sem ser medo a morrerem, a sede a formar água na boca, os sorrisos de escuros partilhados...
Depois o amor, a importancia do amor para nós, aquilo que não lhe queremos fazer, o selo do respeito que lhe temos...
Seguimos estrada fora e levas-me onde tanto precisas ir, desta vez, pela primeira vez, queres uma companhia que vive dentro de ti, aquela força que ganhou vida á tua frente, eu!
Tal como disse que iria ser, lembro-me hoje e irei sempre lembrar-me de me olhar, ver-me com a tua t-shirt preta, o meu vestido alegre, nos pés as sandálias brancas que faziam contraste com a minha pele morena...
Os teus braços á minha volta, as nossas bocas ainda brancas do pão com chouriço que comemos deliciados, o teu beijo frio da cerveja que bebias, tudo certo, tudo perfeito, pode parecer tudo estranho mas para mim esta tudo exactamente como deve estar...
Junto a uma pequena casa com simbolos católicos pousámos os nossos corpos, tu sentado no muro com o mar gigante atrás de ti, eu na tua frente envolvo-te num abraço, não sei porquê, tu tambem não deves saber mas ficaste pequeno, foste meu filho por momentos e amei-te maternalmente...
Tu admitiste esse amor que sabes ser raro acontecer-te, mas que aconteceu comigo e eu amei-te assim tambem, da mesma forma que se não me amaste já como pai, provavelmente irá acontecer no futuro!
Agora a parte que tu já sabes mas que o mundo ainda não sabe:
O Cabo Espichel olha-nos de cima e com os olhos rasgados respira fundo e filtra o nosso amor, aprova-o e demonstra a sua benção através do envio de palavras mudas que voam no vento contra nós, agarram-se aos nossos ouvidos e atiram-se lá para dentro, misturam-se no encontro do nosso coração e da nossa mente e renascem com som nos nossos lábios quando dizes que me amas e eu digo que te amo ainda mais!

Sem comentários:

Enviar um comentário